“Sede bravos e corajosos”
Integrada na evocação do Dia Diocesano da Pastoral Social (2.º sábado da quaresma), o Secretariado Diocesano partilha uma reflexão sobre os jovens na sociedade e na Igreja.
Nesse texto aponta-se a necessidade de organizar uma Pastoral da Juventude, num tempo oportuno para o fazer, a partir das Jornadas Mundiais da Juventude – Lisboa 2023 que decorrem de 01 a 06 de agosto, sob o lema «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39). Este SIM de Maria tem que ser destacado e ser para nós um desafio.
Nos dias de hoje vivemos facilmente no “nim”, que é meio sim, meio não, e é um compromisso descomprometido sem causa nem consequência.
Sim, ser jovem também é isso, mas é muito mais do isso!
A juventude é audaz, arrogante, um turbilhão criador e inovador capaz de mudar o mundo e fazer caminho. Um caminho que, como diz o Cardeal D. José Tolentino de Mendonça, nos conduza a «uma civilização do amor»! «A vossa geração de jovens não pode ser de mulheres e homens que repetem o mundo, vocês têm de recriar, pois não é impossível uma civilização do amor».
Nós, como Igreja, não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar a força rebelde dos jovens, temos que ter a capacidade de, sem perder a nossa identidade e os nossos valores, sermos capazes de os conduzir, de os integrar, de os responsabilizar e dar a liberdade necessária para que possam criar a fazer o seu caminho.
Quando perguntamos a tantos e tantos jovens qual o momento que mais gostam da sua ida semanal à missa e ouvimos, repetidamente, que esperam com ansiedade a bênção final, não como consequência dos ensinamentos ouvidos e pela possibilidade de os colocar em prática e ser uma Igreja em movimento, mas sim resultado do alívio que sentem por ter terminado o “castigo”, devemos refletir e encontrar um modo de sermos cativantes, de sermos companheiros de caminho, de darmos sentido e esperança às muitas dúvidas que uma geração jovem, saudável, naturalmente tem.
Temos que ter a capacidade e a humildade de criar fóruns de discussão sem tabus nem reticências, onde os jovens possam de forma livre e espontânea expressar os seus pensamentos e ideias, onde possam partilhar as suas dúvidas e os seus anseios, onde se sintam ouvidos e não rejeitados, onde a diferença deve ser integradora e não exclusiva.
Não tenhais medo! (Mt 10,26-33), Diz-nos Jesus com amor e segurança.
Temos que ser bravos e corajosos e não ter medo de ouvir, não ter medo de sermos confrontados com as questões levantadas pelos jovens. Sem nos descaracterizar nem perder o foco da nossa matriz mais profunda. Sem deixar de ser o que somos, temos que nos adaptar e aprender a falar a sua linguagem, ouvir as suas músicas, comentar os seus filmes, dar-lhes sentido e razão, tendo a capacidade de os integrar.
Os jovens são portadores de uma inquietação que deve ser acolhida, respeitada e acompanhada, apostando com convicção na sua liberdade e responsabilidade. Nós Igreja temos que perceber que o seu contributo é fundamental para a nossa renovação. Os jovens, em muitos aspetos, podem estar mais à frente que os adultos, mais atentos e despertos. Tal como o jovem “Discípulo Amado” chegou em primeiro lugar ao sepulcro, precedendo, na sua corrida, a Pedro, entorpecido pela idade e pela traição (Jo 20, 1-10); de modo semelhante na comunidade cristã, o dinamismo juvenil é uma energia renovadora para a Igreja, porque a ajuda a sacudir das costas “pesos e lentidões”.
Para muitos jovens, Deus, a religião e a igrejas são palavras vãs e vazias de conteúdo. Um número consistente de jovens, por razões muito distintas, não pede nada à Igreja porque não a consideram relevante nem importante para a sua existência. Alguns consideram mesmo que a Igreja é incomoda e irritante. Este sentimento tem raízes em fundamentos sérios e compreensíveis: os escândalos sexuais e económicos; a falta de preparação dos membros da comunidade cristã, que não sabem captar a sensibilidade dos jovens; o papel passivo atribuído aos jovens nessa mesma comunidade; a dificuldade da Igreja em dar razão das suas posições doutrinais e éticas à sociedade contemporânea.
A Igreja deve ser humilde e discreta, não pode ser ostensiva e orgulhosa, deve estar segura dos seus dons e ser um farol de esperança, uma referência que dê argumentos aos jovens de hoje para a poderem defender, acarinhar e incorporar com sentimento de família e pertença.
Por fim quero também fazer aos jovens de hoje o mesmo apelo: “sejam bravos e corajosos”, deixem-se seduzir, abram os vossos corações e deixem Jesus entrar. Não se excluam nem se escondam, tenham esperança e convicção que a Igreja precisa da vossa renovação, do vosso sopro de novidade e irreverência.
Numa sociedade de descarte, em que ser da Igreja não está na moda nem é fator de glória entre os vossos pares, é necessário dar um passo em frente e dizer presente, dizer “contem connosco”!
Nos mais variados campos da pastoral é necessária a vossa participação. Se encontrarem as portas fechadas, batam! Não virem costas nem se afastem, sejam persistente e façam-se ouvir, sejam vocês próprios, com todas as vossas muitas virtudes e os vossos irreverentes defeitos. Deixem-se tocar e saibam ser diferentes.
Segundo o Papa Francisco a Cáritas é a mão que “auxilia o Sumo Pontífice e os Bispos no exercício do seu ministério aos mais pobres e necessitados, participando na gestão de emergências humanitárias e colaborando na difusão da caridade e da justiça no mundo à luz do Evangelho e dos ensinamentos da Igreja católica.”
E, como todas as instituições, também a Cáritas necessita renovar-se precisando, para isso, da frescura que as ideias dos jovens trazem consigo.
O 3º Domingo da Quaresma é, todos os anos, o Dia Nacional da Cáritas, culminando a Semana Nacional Cáritas, que decorre de 05 a 12 de março numa iniciativa que junta toda a rede Cáritas em Portugal. É uma semana durante a qual se procura evidenciar a ação da Cáritas no apoio direto e concreto a todas as pessoas que, por alguma razão, precisam de ajuda. Em todo o país, multiplicam-se atividades de reflexão sobre a ação social, atividades de animação pastoral e também iniciativas de angariação de fundos.
Todas estas atividades ficarão mais ricas e engrandecidas com a participação dos mais jovens. Apelamos à vossa colaboração, sejam participantes e auxiliem na vossa paróquia, na vossa família, no vosso grupo de amigo, deixem-se “tocar”, sejam bravos e corajosos.
Nuno de Brito