Conclusões da 10.ª Assembleia Diocesana da Pastoral Social e Mobilidade Humana
No dia 16 de março, II Domingo da Quaresma, a Diocese de Portalegre – Castelo Branco reuniu no Auditório Elvino Pereira, em Mação a 10.ª Assembleia Diocesana da Pastoral Social, organizada pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Social e Mobilidade Humana, com a participação de pessoas vindas das diversas zonas pastorais da Diocese, representantes de diversos grupos, movimentos e obras, párocos e entidades convidadas.
A Assembleia, participada por cerca de 200 pessoas representantes das diversas comunidades cristãs da diocese, teve como tema: “Comunidades Cristãs e Ação Social – o desafio da proximidade” Foi presidida pelo senhor Bispo, Dom Antonino Dias, que iniciou com um tempo de oração. O Diretor do Secretariado Diocesano da Pastoral Social e Mobilidade Humana, Elicídio Bilé, apresentou o programa da Assembleia, começando por saudar: o senhor Bispo, Dom Antonino Dias; o senhor Presidente da Câmara Municipal de Mação, Dr. Vasco Estrela; o Arcipreste de Abrantes, Pe. Adelino Cardoso; o Pároco de Mação, Pe. Amândio Mateus; todas as Entidades presentes, os órgãos de comunicação social e todos os participantes. Agradeceu à câmara Municipal de Mação a cedência das instalações, o apoio concedido, e a presença do seu Presidente, à Escola Básica EB 2-3 e Secundária de Mação, a cedência do espaço para o almoço e a sua confeção. Manifestou reconhecimento ao pároco e à Cáritas Paroquial de Mação, pelo apoio na preparação da Assembleia e na logística. Agradeceu, também, aos palestrantes, Pe. Doutor Tiago Freitas da Arquidiocese de Braga e ao teólogo, Doutor Juan Ambrósio da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa. De seguida fez o enquadramento da Assembleia, recordando que esta ocorre no início da Semana Cáritas que tem por lema “Juntos numa só família Humana”, cujo ponto alto será o 3.º Domingo da Quaresma, com diversas iniciativas e como oportunidade para tornar visível este serviço da Igreja a favor dos mais carenciados possibilitando a partilha fraterna de bens, não como uma forma limitada de caridade, mas com verdadeiro sentido de justiça, como sinal e caminho de comunhão de vida, segundo a justiça de Deus.
Referiu que o tema proposto, vem interpelar-nos sobre: o modelo de paróquia que temos: com base na territorialidade ou na antropologia?; qual é o verdadeiro sentido de comunidade cristã?; que participação e corresponsabilidade têm os leigos na planificação e no desenvolvimento da pastoral na paróquia?; que lugar ocupa a caridade organizada e o acolhimento?; como se promove a fraternidade?
Seguiu-se a Sessão de Abertura presidida pelo senhor Bispo que teve palavras de estímulo e de incentivo à participação de todos e na identificação com os objetivos da jornada. Agradeceu a colaboração da Câmara Municipal e dos palestrantes convidados. Lembrou que colocou na página do facebook um texto sobre o tema da Assembleia, com o título: “Que a paróquia se reveja e cuide”. Usaram da palavra o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco sublinhando a boa cooperação entre a Autarquia, a Diocese e a Cáritas Diocesana/Secretariado Diocesano da Pastoral Social, que se tem traduzido em colaboração mútua, com especial relevância no apoio às vítimas dos incêndios florestais de 2017 e uma palavra de acolhimento a todos os participantes nesta jornada diocesana.
” Novos horizontes da realidade paroquial”, foi o tema que o Pe. Doutor Tiago Freitas desenvolveu durante a manhã, tendo por base a sua tese de douramento na Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma, com um trabalho publicado com o título de “Colégio de Paróquias – A paróquia em tempos de mobilidade”.
O Pe. Tiago Freitas abordou o tema em três vertentes; Mobilidade religiosa; Paróquia; Colégio de Paróquias.
Na primeira vertente – Mobilidade Religiosa, começou por apontar duas mudanças de paradigma: 1. “Crise da memória e heranças cristãs, acompanhadas por uma espécie de agnosticismo prático e indiferentismo religioso” (João Paulo II, Ecclesia in Europa), 2. Secularismo e agnosticismo prático: Fé é algo do foro íntimo e a-cultural; “A fé não deve ser pressuposta, mas proposta” (Bento XVI, Discurso em Bernardins 2008). No seu desenvolvimento fez referência à Era Secular que resulta de uma nova condição do crente que se confronta com a não crença, ao crer sem pertencer, uma ambígua relação entre o crente e Deus.
Na segunda vertente – a Paróquia, falou da civilização paroquial, na qual paróquia influi nos ritmos sociais, ou seja, enforma os tempos e espaços comuns, constrói uma identidade cultural partilhada e supera o seu penhor estritamente eclesiástico. Citou Tito Casini, “O teu batistério, o teu cemitério. No âmbito do território, na sombra do teu campanário, a poucos passos um do outro, estão os dois confins da minha existência, os pontos de partida e de chegada da minha viagem terrena”. Em sequência abordou a crise da paróquia, uma crise de transmissão da fé e dos valores do cristianismo citando Henri Gagey, “A presente crise que a Igreja Católica atravessa é a repercussão, na mesma Igreja, de uma mutação social e cultural de uma considerável envergadura”. Apontou alguns traços da fisionomia da paróquia e um tipo de organização, como resposta, baseada nas Unidades Pastorais que tiveram o seu início em 1991, em Colónia, na Alemanha, abordando as razões contingentes e teológicas para a sua organização. Fez, em seguida, um percurso pelo conceito de paróquia ao longo dos tempos.
Na terceira vertente, Colégio de Paróquias, começou por abordar a mobilidade numa perspetiva territorial e religiosa, para falar, depois, da sua dimensão constitutiva: Hospitalidade; Gestação; Comunicação; Memória. Definiu os objetivos e apresentou uma definição para o colégio de paróquias em duas dimensões: 1 – É a presença qualificada, próxima e ministerial da Igreja em lugares de particular relevo antropológico e espiritual para, de modo ágil e estável, atingir as periferias humanas e anunciar Cristo; 2- É o conjunto das paróquias, entendidas como realidades de presença ministerial qualificada num determinado lugar, e curadas, sob a presidência de um pároco, por um colégio representativo dessas mesmas realidades.
“A Ação Social como Proximidade: polo identitário das comunidades cristãs” foi o tema desenvolvido pelo Teólogo Doutor Juan Ambrósio Docente da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa. O tema foi apresentado em três partes complementares: Pressupostos para a reflexão; A Ação Social no coração do ser e do viver eclesial; A Ação Social eixo de interpelação à vida da Comunidade.
Na primeira parte, Pressupostos para a Reflexão, o Doutor Juan Ambrósio afirmou que o cristianismo tem como fundamento, meta e estrutura uma experiência de encontro: com Jesus Cristo (no seu modo de ser e de viver); com Deus (na proposta do Reino); com o ser humano e a sua história (no que são os seus anseios, as suas fragilidades, as suas realizações). Citou a Nota Pastoral da CEP para o Ano Missionário e o Mês Missionário Extraordinário, 20/05/2018, n.º 3. “Todos, Tudo e Sempre em missão”: “Trata-se de colocar a missão de Jesus no coração da própria Igreja, transformando-a em critério para medir a eficácia das estruturas, os resultados do trabalho, a fecundidade dos seus ministros e a alegria que são capazes de suscitar, porque sem alegria não se atrai ninguém.”, para dizer que em bom rigor não é a Igreja que tem uma missão, é a missão que tem uma Igreja! Missão que tem a ver com todos e cada um (não reservada só a alguns, só a especialistas). Missão que se concretiza: no anúncio da Palavra; na celebração da fé; na vivência da diaconia/caridade. Unidos, cimentados, tecidos, sustentados pela comunhão. Concluiu este ponto afirmando que a paróquia tem como horizonte o mundo das pessoas, e o mundo das pessoas tem como horizonte a paróquia.
Na segunda parte, a Ação Social no coração do ser e do viver eclesial, apresentou a diaconia da caridade como: sinal e luz que tornam crível e visível o amor de Deus revelado em Jesus Cristo; constitutiva e tipificante da experiência eclesial; mais do que filantropia e solidariedade, pois é suportada pelo amor gratuito de Deus; e, é também verdadeiramente «anúncio do Evangelho» e «celebração da fé». Referiu que a identidade e missão cristãs também geram uma ortopraxia: 1- Não se esgotam em teorias e códigos, não são só afirmações de verdades a acreditar. São um dizer que tem obrigatoriamente de ser traduzido num fazer e num viver. 2- Sendo processos dinâmicos, a identidade e missão cristãs são mais fiel e plenamente vividas na medida em que escutarmos as interpelações que nos são colocadas pelo mundo em que vivemos.
Na terceira parte, a Ação Social eixo de interpelação à vida da Comunidade, falou da vivência da fraternidade (tecer teias de relações) afirmando que as comunidades cristãs são chamadas a testemunhar e desenvolver a dimensão da fraternidade humana e uma proposta de sentido (dimensão social e política da fé): educando os crentes na atenção à história e no discernimento dos «sinais dos tempos»; comprometendo-se na ação transformadora dos ambientes e estruturas sociais; combatendo a pobreza e todas as situações de injustiça.
Por fim falou da necessária e indispensável organização da Ação Social: 1 – Em ordem a que possa ser uma ação constante, harmónica e persistente, com uma necessária significatividade pública; 2 – Congregando esforços, definindo prioridades, evitando duplicações e o desbaratar de energias e de meios; 3 – Enquadrando e aprofundando o papel dos diversos grupos, nomeadamente da Cáritas, enquanto expressão “oficial”, estrutural-simbólica do agir sociocaritativo da Igreja. Do fomento dos ministérios da diaconia/caridade, como realização de uma tarefa essencial na vida da Igreja, com uma configuração de serviço precisa, assumida como compromisso estável, e reconhecida pela comunidade eclesial. Acrescentou que não podemos deixar de nos questionar como é possível desenvolver, neste âmbito, os carismas próprios e a vocação caritativa das comunidades.
Terminou reforçando a força profética da diaconia/caridade, manifestada essencialmente em dois vetores: 1 – uma sensibilidade e atenção profunda às situações de pobreza (cuidado do outro); 2 – um compromisso, ousado e criativo na procura do bem-comum.
Como conclusão da sua exposição, afirmou que é verdadeiramente fundamental perceber e verificar se os pobres, e os que estão nas periferias, encontram motivos de acolhimento e esperança nos cristãos e nas suas comunidades.
O debate com os conferencistas foi intenso e profícuo revelando o interesse como foi vivido este dia de reflexão e partilha.
A terminar o Diretor do Secretariado sublinhou a preocupação na organização da Pastoral Social na Diocese, incentivando a que os participantes desta Assembleia sejam veículos do que aqui foi tratado, entusiasmando os membros das suas comunidades a estarem despertas para darem o seu contributo na missão da Igreja e na participação nas diversas ações de formação que o Secretariado realiza.
O senhor Bispo, antes da oração final, encerrou os trabalhos sublinhado a preocupação e a necessidade da Diocese organizar a Pastoral social, em todas comunidades cristãs, criando e desenvolvendo a Cáritas, como serviço na comunidade, em nome da Igreja. A Cáritas Diocesana e o Secretariado Diocesano da Pastoral Social e Mobilidade Humana, têm a missão de animar os Grupos Paroquiais de Ação Social, ajudar na sua organização e dotá-los de ferramentas de intervenção. A palavra final foi de agradecimento a todos os que participaram, aos palestrantes e aos que colaboraram na organização deste dia diocesano da Pastoral Social.
Portalegre, 16 de março de 2019
Elicídio Bilé
Secretariado Diocesano da Pastoral Social
e Mobilidade Humana