Semana Nacional Cáritas
Mensagem de D. José Traquina, presidente da Comissão Episcopal da pastoral Social e Mobilidade Humana
Cáritas – Amor que transforma
O último Conselho Geral da Cáritas, de tal modo estava convencido de que a expressão “Cáritas – Amor que transforma” caracteriza a Cáritas na sua existência e no seu agir, que decidiu manter o seu lema para mais uns anos. Com efeito, Cáritas é a definição de Deus: “Deus é amor (Deus Caritas Est), e quem permanece no amor permanece em Deus” (1Jo 4.16). Cáritas foi o termo que os cristãos encontraram para designar o amor cristão, o amor identificado com a mensagem de Cristo, o Bom Samaritano da humanidade (cf. Lc 10,29-37), amor cheio da graça de Deus que tem força de nos transformar por dentro e de transformar a realidade que nos é exterior.
Dirijo-me, nesta mensagem, a todos os que, nas comunidades em que vivem (paroquiais ou outras), se sentem motivados pela situação real daqueles que lhes são próximos, vivendo as suas alegrias e as suas esperanças, as suas tristezas e as suas angústias (cf. Gaudium et spes, n. 1). Dirijo-me àqueles que, individualmente ou em organismos, serviços e instituições, lutam contra a indiferença, o alheamento e o egoísmo. Mas escrevo também a todos os outros, apelando ao seu coração, sua consciência e morada
interior, para que, atentos à realidade que os rodeia, não se alheiem e descubram a oportunidade de afirmar e fazer crescer a bondade no mundo, contribuindo para a “civilização do amor”, em contraposição à cultura do ódio.
Cáritas – faz parte da essência e missão da Igreja
Junto das pessoas que necessitam de apoio, portugueses ou migrantes de outras nacionalidades, a Igreja deve ser o rosto materno de Deus. É isso que é chamada a ser por fidelidade ao Espírito e à sua missão. Como escreveu o Papa Bento XVI: “A prática da caridade confirmou-se na Igreja como uma das suas funções essenciais (…), pertence tanto à sua essência como o serviço dos Sacramentos e o anúncio do Evangelho” (Deus Caritas Est, nº 22).
Agradeço a todos os que assumem esta dimensão essencial da Igreja na rede Cáritas: voluntários e colaboradores que nos ajudam a estarmos “lá” onde é preciso: sois o rosto da Cáritas enquanto organização eclesial ao serviço da pessoa humana, especialmente as situações de desigualdade e aflição que tornam mais urgente a nossa intervenção. Saliento a vantagem da cooperação em rede para nos ajudarmos a amar mais, servindo melhor.
Dirijo-me, também, a todos os doadores da Cáritas para vos agradecer: do vosso apoio depende a eficácia e a eficiência da ação próxima da Cáritas como Amor que transforma.
Cáritas – Amor universal que promove as pessoas com limitações especiais
Já o ano passado vos propus um trecho da bela encíclica do Papa Francisco, Fratelli tutti. Desta vez proponho-me retomá-la nos números 107 e 108:
«Todo o ser humano tem direito de viver com dignidade e desenvolver-se integralmente, e nenhum país lhe pode negar este direito fundamental. Todos o possuem, mesmo quem é pouco eficiente porque nasceu ou cresceu com limitações. De facto, isto não diminui a sua dignidade imensa de pessoa humana, que se baseia, não nas circunstâncias, mas no valor do seu ser. Quando não se salvaguarda este princípio elementar, não há futuro para a fraternidade nem para a sobrevivência da Humanidade» (n. 107).
E o Papa continua: «Há sociedades que acolhem apenas parcialmente este princípio». E explica, citando a Evangelli gaudium, n. 190, que para essas sociedades não teria sentido «investir para que os lentos, fracos ou menos dotados possam também singrar na vida». E continua: «Investir a favor das pessoas frágeis pode não ser rentável, pode implicar menor eficiência; requer um Estado presente e ativo e instituições da sociedade civil que ultrapassem a liberdade dos mecanismos eficientistas de certos sistemas económicos, políticos ou ideológicos, porque estão verdadeiramente orientados em primeiro lugar para as pessoas e o bem comum» (n. 108).
Regozijo-me por tudo o que é promovido em favor de pessoas com limitações especiais nas diversas instituições, movimentos e comunidades. Mas é necessário valorizar este cuidado nas mais diversas oportunidades de promoção das pessoas: a atenção devida a estas pessoas, faz crescer na sociedade a bondade e a justiça. A missão da Cáritas é, também, despertar para esta solidariedade, comprometidos com a transformação do mundo em que vivemos para que seja, cada vez mais, uma terra de irmãos. Para que juntos vivamos verdadeiramente numa só família humana.
Terramoto na Turquia e na Síria
A Cáritas Portuguesa, com a rede Cáritas Internacional, está a acompanhar a situação dramática vivida na Turquia e Síria, resultante do terramoto que surgiu no passado dia 6 de fevereiro. Como informou a Cáritas Portuguesa, «neste momento a principal preocupação da rede Cáritas é garantir uma resposta rápida e em segurança para os sobreviventes e para os milhares de desalojados. As equipas da Cáritas nos dois países estão já no terreno, em articulação com as entidades locais. Toda a ajuda para reforçar a atuação da Cáritas no terreno deverá ser canalizada para o fundo de emergências internacionais da Cáritas Portuguesa: IBAN PT 50 0033 0000 01090040150 12».
Como aconteceu noutras situações do mundo, em anos anteriores, uma vez mais somos chamados a ser solidários com pessoas distantes atingidas por catástrofes da natureza. Cáritas – Amor que transforma, também transforma a distância em proximidade; não tem fronteiras.
+ José Traquina
Bispo de Santarém
Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana