“A importância da Igreja na formação dos Jovens”
Integrada na evocação do Dia Diocesano da Pastoral Social (2.º sábado da quaresma), o Secretariado Diocesano partilha uma reflexão sobre os jovens na sociedade e na Igreja.
As Jornadas Mundiais da Juventude que decorrerão em Lisboa entre 01 a 06 de agosto de 2023, com o lema «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39), têm vindo a ser objeto de organização e mobilização dos jovens como participantes nas jornadas e como voluntários na sua organização. Este é o maior evento organizado pela Igreja Católica e decorre no decurso do processo sinodal 2021-2024, que afirma o desejo de mudanças na Igreja Católica e um apelo a percorrer um caminho conjunto, sob o lema «Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão». É neste clima, privilegiado, de reflexão e de vivência espiritual que acontece a JMJ – Lisboa 2023.
A organização apresenta estas jornadas “como um encontro dos jovens de todo o mundo com o Papa e, simultaneamente, como uma peregrinação, uma festa da juventude, uma expressão da Igreja universal e um momento forte de evangelização do mundo juvenil. Apresenta-se como um convite a uma geração determinada em construir um mundo mais justo e solidário, com uma identidade claramente católica, aberta a todos, quer estejam mais próximos ou mais distantes da Igreja”.
Neste pressuposto, consideramos que as JMJ não são um evento que termina no dia 06 de agosto, data de encerramento das jornadas de Lisboa. Esta data significa um novo recomeço, uma oportunidade relevante para manter os Jovens no centro da comunhão eclesial e no testemunho de fé das novas gerações, vivenciadas ao longo das jornadas. É também uma nova oportunidade para captar outros jovens mais afastados a fazer a descoberta de Jesus. A Igreja tem agora uma valiosa ocasião de oferecer aos jovens um caminho de perseverança através da sua inserção nos diversos serviços da Pastoral da Igreja, de acordo com a sua motivação: Liturgia – celebração dos Sacramentos (Leiturgia); Anúncio do Evangelho – Anúncio da Palavra de Deus (Kerigma-martiria); Caridade – o testemunho da fé (diakonia). Estas três áreas da Pastoral são dimensões inseparáveis da vida da Igreja, que necessita renovação, também porque lhe falta a presença ativa dos jovens. Ao olhar para as nossas assembleias cristãs, é notória a ausência de jovens. Onde estão os jovens de hoje? Questionamo-nos, comentamos o facto, entristecemo-nos, mas devemos procurar respostas e agir:
– A responsabilidade pela atual situação é da exclusiva responsabilidade dos jovens?
– Como respondem os adultos, cronologicamente falando, para alterar o paradigma?
– Como estão organizados os serviços das diversas pastorais da Igreja que tornem atrativa a participação dos jovens?
No Sínodo dos Bispos, em 2018, sobre os Jovens e a Fé e na exortação apostólica pós-sinodal, “Christus Vivit”, o Papa exorta os jovens a ser “não o futuro, mas o presente da Igreja”. É por isso que reafirmamos que esta é uma oportunidade que não deve ser descurada. Sabemos que a juventude é um período fértil da vida humana e que, quando bem cultivada, e regada, pode gerar imensos frutos, na vida pessoal e comunitária de todos. A juventude é o período das transformações e reflexões, capazes de transformar o ser humano e a sua circunstância, isto é, o meio em que estão inseridos. Por isso, destacamos o papel decisivo da atuação da Igreja no acolhimento dos jovens quando, por exemplo, em momentos celebrativos ou sociais, é capaz de transformar esses momentos em ambientes favoráveis de formação, nos quais estão presentes os elementos da religiosidade natural, e se valorizam os conhecimentos prévios, a educação popular e familiar, as realidades e circunstâncias das pessoas, sobretudo dos jovens, e a construção de novas possibilidades de compreensão do mundo, com o olhar de Jesus. O método para o conseguir passa pela organização da formação voltada para uma pastoral da juventude que valorize e cative os jovens a participar ativamente na vida da Igreja.
A evangelização que cada um pode fazer, assumindo a sua identidade batismal, é enorme. Existem coisas que só os leigos podem fazer. Quem vai colaborar nos serviços da paróquia? Quem vai ajudar nos diversos serviços da pastoral? Quem vai tocar na missa e nas celebrações litúrgicas? Quem vai criar soluções coerentes com a fé católica para os problemas do mundo? Esse testemunho da fé, de uma sociedade justa, é uma das expectativas da Igreja em relação à missão do leigo e particularmente do jovem leigo. Por isso, devemos cooperar com a ação de Deus: “a Sabedoria deixa-se encontrar por quem a procura” (Sb 6,12-21) e, talvez, quem procure a Sabedoria encontre o jovem e a si próprio, porque cada um é a Igreja!
Por isto, entendemos que, a formação da Pastoral da Juventude, poderá assentar em várias dimensões: 1. personalização, centrada na pessoa humana; 2. integração, na vida da Igreja e na participação entre gerações; 3. ação sociopolítica, olhando o tempo presente, o mundo onde vivemos; 4. teológica, dando a conhecer a presença de Deus na Sua relação com o mundo e com as pessoas; 5. capacitação técnica, com o objetivo de treinar, aperfeiçoar capacidades e desenvolver processos dentro da Igreja, tendo em vista as pessoas e as comunidades; 6. Vocacional, descobrir a tendência natural de cada jovem que o direcione para um estado de vida concreto.
Aprofundar o aspeto da formação dos leigos, particularmente dos jovens leigos, deve ser completo e permanente, isto é, ao longo da vida. Para isso, é necessário discernimento e coragem por forma a que os jovens se envolvam como leigos na sociedade, assumindo a responsabilidade de participar como cristãos nos processos políticos, sociais e da vida da eclesial.
Deste modo, configura-se, a Pastoral da Juventude como um importante instrumento para a formação dos jovens, num processo que não visa a formação de profissionais ou especialistas em determinada área, mas num ser humano responsável pelo mundo em que vive, com valores éticos e morais de responsabilidade sobre a sua vida e a vida dos outros. A dimensão comunitária fica evidentemente aflorada, representando o grande objetivo da formação de líderes juvenis. As suas principais preocupações e a sua espiritualidade não se centram no individualismo ou, pior que isso, no egoísmo, mas na capacidade de se sentir participante da vida do outro e reconhecer-se parte integral da sociedade em que vive. É justamente por estas características que a atuação da pastoral social com a participação dos jovens, ganhará mais espaço, mais destaque e maior apoio, dentro e fora da Igreja, transformando-se num espaço privilegiado de educação, para a formação da consciência crítica e para a emancipação do ser humano.
João Paulo II, na encíclica Christifideles Laici, que retoma do Concílio Vaticano II, lembra ao episcopado e a todos os fiéis da importância da formação da juventude quando diz que “a Igreja tem muito a falar para os jovens e os jovens a dizer para a Igreja”. Esta é a dialética, formar pela capacidade e pela técnica de dialogar e convencer através da comunicação. Isso só acontecerá com a promoção de uma “autêntica Pastoral da Juventude” e com a formação.
Também D. Jorge Ortiga, no dia 03 de outubro de 2018, no início do Sínodo dos Bispos disse. “Não temos sido capazes de nos situar ao nível dos jovens, para falar a sua linguagem, usar os seus meios de comunicação para os motivar para determinadas opções e compromissos com a Igreja.”
E, a Fundação Universitária San Pablo CEU de Madrid, que atribui os Prémios CEU Ángel Herrera, reconhece há anos, o trabalho de pessoas, instituições e empresas que contribuíram e contribuem para a melhoria da sociedade e para a promoção do bem comum. Entre as outras categorias desses prémios, constam a colaboração em educação, a solidariedade, a cooperação para o desenvolvimento e empreendedorismo social, o melhor trabalho jornalístico no campo da educação e a inovação educativa. Assim, no passado dia 23 de janeiro, o júri do Prémio CEU Angel Herrera, atribuiu este prémio à Jornada Mundial da Juventude, na categoria de “Difusão da cultura católica”. Na entrega do prémio, foi reconhecido que há quase 40 anos a Jornada Mundial da Juventude proporciona “uma experiência de Igreja Universal, fomentando o encontro com Jesus Cristo e constituir para os jovens um lugar de nascimento de vocações para o matrimónio e para a vida consagrada”. Foi também recordado que o prémio deve ser partilhado com todos os que trabalham com entusiasmo e dedicação para a realização da próxima JMJ Lisboa 2023.
O Secretariado Diocesano da Pastoral Social da Diocese de Portalegre – Castelo Branco, ao apresentar esta reflexão, manifesta a sua disponibilidade para colaborar na Pastoral da Juventude e com os diversos secretariados diocesanos, para acolher os Jovens e integrar aqueles que se sintam chamados a participar das atividades da Pastoral Social, a partir da experiência vivida nestas Jornadas Mundiais da Juventude. Para além do acolhimento proporcionaremos a sua formação para que possam integrar equipas multidisciplinares, entre gerações e equipas jovens (Cáritas Jovem; Conferências Vicentinas Jovens…).
Elicídio Bilé