III – O SERVIÇO DA CARIDADE
Desta reflexão que temos vindo a fazer, podemos concluir que o serviço da caridade deve ser pensado, ordenado e agido, para atingir a missão da Igreja. Que a caridade sendo um dom de Deus e um dom de si mesmo, não dispensa ninguém de agir a favor do irmão mais desfavorecido, de amar o próximo como a si mesmo, de não ficar à espera que outros resolvam por si, de participar na vida da comunidade, de contribuir para que as instituições funcionem com a sua intervenção e colaboração.
Como?
– Na Diocese
A nossa Diocese tem vários serviços centrais organizados para promover e apoiar a prática da caridade, em todas as suas formas e em todas as comunidades, sob a coordenação do Secretariado Diocesano da Pastoral Social, a saber: a Caritas Diocesana, a Comissão Diocesana Justiça e Paz, o Serviço de Apoio à Pastoral da Saúde (em algumas dioceses) e o Serviço de Apoio Pastoral à Mobilidade Humana.
Considerando tudo o que ao longo destas três semanas foi dito, este é o tempo oportuno de avaliar e repensar o serviço da caridade a nível diocesano em ordem a uma atividade mais coordenada e criativa. Neste sentido, a partir do Dia Diocesano da Pastoral Social, apelamos à reflexão conjunta e à procura de caminhos de cooperação que envolvam as Cáritas Paroquias, as Instituições de Solidariedade Social, as Misericórdias, as Conferências Vicentinas, as Confrarias e outros Grupos Paroquiais de Ação Social, a reforçarem a identidade, a missão e a motivação cristã dos seus serviços, que possibilitem uma economia de meios e de pessoas e sirva mais e melhor as pessoas carenciadas e de maior vulnerabilidade.
A Cáritas mais do que um grupo organizado é a expressão da atividade sociocaritativa organizada da nossa Igreja Diocesana. É um organismo pastoral mandatado pelo Bispo Diocesano, com o objetivo de ajudar toda a comunidade diocesana a tornar-se comunidade samaritana que responda às necessidades imediatas das situações emergentes de pobreza e que promova e integre quem vive, muitas vezes na margem da sociedade.
Para alcançar este objetivo compete-lhe também, estatutariamente, animar e apoiar as iniciativas dos vários grupos que atuam neste âmbito.
– Na paróquia
Como forma de efetivar a prática da caridade é necessário que, em cada paróquia ou comunidade, se constitua um serviço paroquial de ação social – Cáritas Paroquial, reconhecido e com representação no Conselho Pastoral. Este serviço paroquial assumirá a função de animar e coordenar a prática da caridade na diversidade das expressões existentes, em articulação com a Cáritas Diocesana, de modo a que se possa fazer uma programação calendarizada de iniciativas, encontros e celebrações tal como acontece com a Catequese e a Liturgia. Muitas comunidades da nossa diocese não têm este serviço organizado. Urge, pois, organizá-lo.
– Na promoção do voluntariado
O voluntariado é uma escola de vida e de fraternidade onde se aprende a acolher o outro, a cultivar a generosidade, a colocar-se ao serviço, a partilhar os dons e a pô-los a render em prol dos outros.
Para os jovens é um caminho eficaz que lhes abre horizontes de solidariedade, orienta as suas energias, nem sempre bem orientadas e por vezes desperdiçadas em experiências não positivas, e prepara-os para opções maduras da vida.
De igual modo, muitos profissionais leigos que podem pôr à disposição do bem comum as suas competências saberes, e o seu tempo, como participantes na comunidade eclesial. Podemos afirmar que esta é a via para colocarmos a render os talentos que o Senhor nos deu, para tornarmos vivo e atuante o Mandamento do Amor.
A CONCLUIR
Nestas medidas de organização, sobressai o imperativo de não deixarmos de nos colocar ao serviço dos outros, dos nossos irmãos mais frágeis, de deixarmos para outros a resposta às emergências da vida.
Uma caridade organizada constrói-se com a participação de todos nesta tríplice dimensão da Igreja: A dimensão profética – o anúncio da Palavra; a dimensão litúrgica – a celebração dos sacramentos; a dimensão social – a diakonia, o serviço da caridade. Todas estas dimensões se interpenetram e são o sustentáculo da vida da Igreja de Jesus Cristo. Se alguma não é assumida, deixa de haver, verdadeiramente, Igreja.
Mas, não há caridade sem verdade, como nos diz o Papa Bento XVI, na sua Carta Encíclica “Caritas in Veritate e, também, o Papa Francisco no n.º 227 da Carta Encíclica “Fratelli Tutti”, sublinha que: “A verdade é contar às famílias dilaceradas pela dor o que aconteceu aos seus parentes desaparecidos. A verdade é confessar o que aconteceu aos menores recrutados pelos agentes de violência. A verdade é reconhecer o sofrimento das mulheres vítimas de violência e de abusos. (…) cada ato de violência cometido contra um ser humano é uma ferida na carne da humanidade; cada morte violenta “diminui-nos” como pessoas. (…) A violência gera mais violência, o ódio gera mais ódio, e a morte mais morte. Temos de quebrar esta corrente que aparece como inelutável»”.
A concluir diria que a resposta para a organização da pastoral social requere a participação de todos, conforme refere a Instrução Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa – “A Ação Social da Igreja”, de 1997, n.º 34, que nos diz:
“… é indispensável que as diferentes obras, grupos, movimentos, fundações, associações e instituições em geral da ação social e caritativa – entre as quais é justo salientar as obras de Institutos de Vida Consagrada (modo peculiar de testemunho do Reino), os Centros Paroquiais Sociais, as Misericórdias e a Sociedade de S. Vicente de Paulo – disponham de assistência espiritual própria da Igreja, também aqui mãe e mestra, e se insiram na pastoral social das respetivas comunidades”.
A mesma Instrução Pastoral, n.º 38, conclui: “a pastoral social realiza na Igreja, uma exigência apostólica tão essencial como a litúrgica e a profética. Daqui decorre, necessariamente, o dever urgente de avaliar em que medida as nossas Igrejas particulares exprimem e testemunham a caridade fraterna que é o sinal distintivo de uma Igreja-comunhão”.
A Caridade não é simples filantropia. É olhar para o outro com os olhos de Jesus e ver Jesus no rosto do pobre.
A Caridade é o distintivo do Cristão. O Senhor conta contigo, comigo, connosco. A “messe é grande e os operários são poucos”, por isso, não te aquietes, desinstala-te. Faz o que Jesus fez… Muito irmãos clamam por ti, solicitam a tua ajuda. Estão caídos no caminho e maltratados. É preciso curar-lhes as feridas e promovê-los. Vê e age. Vai ao seu encontro, oferece o teu saber e o teu tempo de forma organizada na tua comunidade. O teu pároco acolher-te-á, para te inserir num dos grupos de ação social já existentes, ou, não existindo, a tua oferta poderá ser o primeiro passo para a criação da Cáritas na tua paróquia, na tua comunidade. Jesus precisa de ti e de mim. A Igreja precisa de nós.
Portalegre, 01 de março de 2021
Elicídio Bilé
Secretariado Diocesano da Pastoral Social e Mobilidade Humana