A ARTE DE ACOMPANHAR
Num tempo de forte convulsão social, económica e sanitária, de perda de valores fundamentais, de falta de sentido para muitas situações da vida comum, só acompanhando os processos de desenvolvimento pessoal poderemos encontrar o verdadeiro sentido para a vida das pessoas e das comunidades, determinantes para o combate às diversas formas de pobreza.
As recentes eleições autárquicas, constituem uma oportunidade de renovação das políticas de intervenção social, centradas nas pessoas e nos seus problemas ao nível do desenvolvimento pessoal e comunitário, no qual todos somos corresponsáveis. Também à Igreja se oferece uma oportunidade de agir coletivamente saindo ao encontro das periferias existenciais, preocupação sempre presente na mensagem do Papa Francisco. A chave para alterar este paradigma está na arte de acompanhar os casos e as pessoas, centrada no “SER” e na otimização dos recursos existentes para que, a partir de uma reflexão crítica, nos situemos de outra forma neste contexto sociopolítico.
Para superar as situações de empobrecimento e de exclusão social que crescem com os processos de desertificação e envelhecimento, de precariedade e de pandemia, torna-se inevitável olhar para os métodos de participação e de acompanhamento.
As palavras, acompanhar e acompanhamento integral, são referencias constantes no Modelo de Ação da Cáritas Diocesana de Portalegre – Castelo Branco. Utilizamo-las para reafirmar o nosso compromisso com as pessoas em situação de vulnerabilidade ou exclusão social, de modo a facilitar a superação das suas dificuldades. Para nós, acompanhar, implica compaixão e companheirismo.
Jack Kornfield, autor e professor americano, que ensina meditação em todo o mundo, sobre a compaixão afirma o seguinte:
«A compaixão é a resposta do coração à dor. Participamos da beleza da vida e do oceano de lágrimas. A desdita da vida faz parte de cada um dos nossos corações e daquilo que nos “ata” aos demais. Leva nela a ternura, a misericórdia e uma bem-aventurança que abarcam todas as coisas e pode alcançar cada ser.»
A raiz etimológica de companheiro deriva do latim “cum panis”, aquele com quem dividimos o pão. Portanto companheiro é aquele com o qual compartilhamos habitualmente o pão, compartilhamos a vida, a conversação, os desafios, os projetos.
Daí fazer todo o sentido utilizar a palavra acompanhamento quando, o que fazemos, tenha que ver com a ideia de partilhar o pão da vida, algo que que, para nós cristãos, tem um significado cheio de simbolismo. Jesus é o grande acompanhante, parte e comparte o seu pão da vida e acompanha-nos no caminho das dificuldades, da incerteza, do mesmo modo que fez com os discípulos de Emaús.
Jesus Cristo reconhece a dignidade dos filhos e filhas de Deus a todas as pessoas com quem se encontra. Este é o primeiro elemento essencial para iniciar um acompanhamento.
Jesus opta nos seus “acompanhamentos” pelas pessoas mais excluídas da sociedade e temos presente muitos dos seus ensinamentos:
– Jesus acompanha os seus momentos de crise e dificuldade: «Caminho para Emaús», permanece a seu lado por tempo suficiente e depois desaparece (Lc 24, 13-35).
– Jesus dialoga com as pessoas, ouve-as com atenção e mantém um relacionamento recíproco com eles: «Bom Samaritano» (Lc 10, 25-37).
– Jesus dá-lhes a responsabilidade na ação de se salvarem: «cura de um cego de nascença» – Vai à piscina de Siloé e lava-te (Jo 9, 6).
– Jesus não os julga, mas aceita-os incondicionalmente: «cura de um cego de nascença» – Nem ele nem seus pais pecaram (Jo 9, 3).
– Jesus acredita firmemente nas suas capacidades e potencialidades para saírem da situação: «cura de um paralítico» – Levanta-te, pega na tua cama e anda (Jo 5, 1-16).
– Jesus convida-os à participação e à transformação social: «O bom samaritano» – Vai e faz tu o mesmo (Lc 10, 25-37).
– Jesus acompanha-os nas necessidades e no sentido de vida, abre caminho para um encontro com o Pai, como encorajamento e estímulo para a vida: «Sede perfeitos como o Pai Celestial é perfeito» (Mt 5, 43-48).
– Jesus não espera que venham até Ele, é Ele quem vem à frente, que sai ao encontro daqueles que estão na beira da estrada: «cura do cego Bartimeu» – Que queres que Eu te faça (Mc 10, 51).
Porquê a Cáritas Diocesana de Portalegre – Castelo Branco publica este texto, baseado numa reflexão coordenada por MARÍA MARTÍNEZ RUPÉREZ, da Cáritas Espanhola?
Porque é missão da Cáritas refletir e suscitar em cada pessoa a motivação para sair de si própria e olhar aquele que necessita de ajuda e de quem cuide, de quem acompanhe e de quem reparta o pão de cada dia.
Na nossa cidade de Portalegre e na nossa Diocese, existe generosidade e sentido do outro mais vulnerável. Existem valores muitas vezes adormecidos, saberes pouco partilhados e tempo para sair de si mesmo e dedicá-lo ao serviço de quem precisa.
É, neste sentido, que voltamos a apelar: juntem-se a nós na Cáritas; voluntariem-se para o serviço comunitário; enriqueçam este serviço da pastoral social.
A Igreja necessita de nós, a comunidade necessita de nós, os pobres esperam de nós um sim comprometido.
Contamos com a vossa generosidade. Contactem-nos:
Elicídio Bilé