Conclusões da 11.ª Assembleia Diocesana da Pastoral Social e Mobilidade Humana
No dia 07 de março, II Domingo da Quaresma, a Diocese de Portalegre – Castelo Branco reuniu no Auditório da Casa de Artes e Cultura do Tejo a 11.ª Assembleia Diocesana da Pastoral Social, organizada pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Social e Mobilidade Humana.
Presidida pelo senhor Bispo, Dom Antonino Dias, a Assembleia iniciou com um tempo de oração seguido da sessão de abertura na qual o Diretor do Secretariado Diocesano da Pastoral Social e Mobilidade Humana, Elicídio Bilé, fez o enquadramento da Assembleia, referindo que o tema proposto, “PERIFERIAS – Nova Centralidade da Mensagem Cristã”, vem interpelar-nos sobre a forma como nós cristãos assumimos, o compromisso de batizados no plano da missão confiada à Igreja, e à comunidade cristã a que pertencemos, perante a comunidade alargada onde estamos inseridos. Acrescentou que é imperativo sair das rotinas em que nos vamos acomodando e partirmos ao encontro do outro.
Citou o Papa Francisco: “os leigos são os braços, as mãos, os pés, a mente e o coração de uma Igreja «em saída», que deve ir ao encontro dos que estão distantes, nas periferias”. E ainda: “A Igreja deve servir Jesus nas pessoas marginalizadas, abandonadas, sem fé, dececionadas com a Igreja, prisioneiras do próprio egoísmo” … “Sair significa «rejeitar a autorreferencialidade» em todas as suas formas; saber ouvir e aprender de todos, com sinceridade humilde”.
Enunciou os trabalhos da Assembleia com duas comunicações, seguidas de debate:
A “OPÇÃO PREFERENCIAL PELAS «PERIFERIAS»” apresentada pelo Dr. Paulo Neves, colaborador ativo da Cáritas Portuguesa e membro da coordenação nacional da Pastoral Penitenciária, numa comunicação mais doutrinal, que refletirá a temática das periferias existenciais colocadas no centro da mensagem cristã e, como tal, na vida da Igreja. De tarde, no seguimento do tema da manhã, A “CÁRITAS ANIMADORA DA CARIDADE”, apresentada pela Dra. Inmaculada Cruz, Secretária Geral da Cáritas Diocesana de Cória-Cáceres, voltada para os aspetos práticos da intervenção, para a Animação Comunitária, tendo por base a ação organizada da comunidade cristã, por forma a envolver toda a comunidade mais alargada que reside no mesmo território. Em causa a necessidade de “Uma Igreja com rosto Samaritano”, servidora, portadora da Boa Notícia, portadora de Esperança, profética e transformadora da sociedade e das estruturas.
“CAMINHAR”, foi a palavra-chave para este dia, porque não vivemos isolados, não caminhamos sozinhos, somos todos parte do mesmo rebanho de Jesus Cristo. Por isso, é necessário anunciar, “anunciar até às periferias” o que significa percorrer um caminho missionário. Sair de nós mesmos, ir ao encontro do outro, às periferias que são lugares, mas, sobretudo são pessoas, são situações de vida.
Seguiu-se a Sessão de Abertura presidida pelo senhor Bispo que teve palavras de estímulo e de incentivo à participação de todos e na identificação com os objetivos da jornada. O senhor D. Antonino agradeceu a colaboração da Câmara Municipal e dos palestrantes convidados. Usou da palavra o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão, Dr. Luis Pereira sublinhando a boa cooperação entre a Autarquia, a Diocese e a Cáritas Diocesana/Secretariado Diocesano da Pastoral Social, que se tem traduzido em colaboração mútua, com especial relevância no apoio às vítimas dos incêndios florestais de 2017 e uma palavra de acolhimento a todos os participantes nesta jornada diocesana.
”A Opção Preferencial pelas «Periferias»”, foi o tema que o Dr. Paulo Neves desenvolveu durante a manhã, assente em três vertentes:
1 – A origem e significado da expressão “Opção preferencial pelas periferias”, a partir do Magistério da Igreja, da prática da caridade e das Obras de Misericórdia, na Igreja, concluindo que, a partir dos diversos documentos pré-conciliares, conciliares e pós-conciliares, se adquiriu a consciência da “Opção preferencial pelas periferias”, uma expressão que revela rostos e implica atitudes;
2 – O lugar das “Periferias” no Evangelho, reveladas no cuidado pelas periferias centrado nas preocupações do Papa Francisco e na força motriz da Igreja, revelada na Encíclica Evangelii Gaudium”, concluindo que se adquiriu a consciência da sua centralidade no Evangelho que revela rostos e implica atitudes;
3 – O desafio da centralidade das “Periferias”, através de onze desafios que vão da reflexão à ação para ir ao encontro das periferias: 1- Promover um encontro pessoal com o amor pessoal de Jesus; 2- Promover o prazer espiritual de ser Povo de Deus; 3- Promover a convicção da presença misteriosa de Jesus na história humana; 4- Promover a convicção da ação misteriosa do Espírito Santo; 5- Promover a força missionária da oração; 6- Promover a presença de Maria enquanto mãe dos pobres; 7- Promover uma pastoral profética mais evangélica; 8- Promover uma pastoral litúrgica mais de encontro; 9- Promover uma pastoral social mais próxima; 10- Promover mais compaixão e menos ideologia; 11- Promover uma mística de periferia. Concluiu que se adquiriu uma consciência de que somos nós, hoje, quem é chamado a dar vida à centralidade das “periferias” no Evangelho, que revela rostos e implica atitudes em conformidade.
Paulo Neves citou, ainda, Pedro Casaldaliga, já citado pelo senhor D. Antonino Dias na sua 2.ª Carta Pastoral de 2015, “Dai-lhes vós mesmos de comer”, sobre Pastoral Social e dirigida à Diocese de Portalegre-Castelo Branco: “Eu creio, com a mais estremecida convicção evangélica, que hoje, já no século XXI, um cristão ou cristã ou é pobre, aliado visceralmente aos pobres, comprometido na causa dos oprimidos, ou não será cristão, não será cristã. Somos bons samaritanos ou negamos o Evangelho.”
A iniciar os trabalhos da tarde, atuou a Tuna da Academia Sénior de Vila Velha de Ródão, que apresentou do seu reportório, 5 temas de música tradicional portuguesa que foram cantados ao som de instrumentos tradicionais por eles tocados.
“CÁRITAS ANIMADORA DA CARIDADE”, foi o tema que Inmaculada Cruz, apresentou na sessão da tarde, tendo como ponto de partida o chamamento de Deus: – “Sai da Tua terra” (Gn.12,1) e “Vós sois o sal da terra” (Mt.5,13). A Igreja é chamada a ser “casa e lar” dos pobres. A comunidade está destinada a ser sinal e instrumento da ação salvadora de Deus. A Cáritas contribui animando a comunidade a viver a opção preferencial pelos mais pobres.
Para o desenvolvimento da ação comunitária da Igreja, apresentou os vários cenários em que nos movemos: religioso; sociocultural; económico; político; técnico-científico; cultural, ecológico; eclesial, para os quais é necessária uma resposta através do discernimento evangélico, como refere o Papa Francisco “O tempo em que vivemos exige que desenvolvamos uma profunda capacidade de discernir. Precisamos ler desde dentro o que o Senhor nos pede, viver no amor e sermos continuadores da sua missão de amor”. Também a mudança de paradigma para uma “Igreja Samaritana”, isto é, passar de uma Igreja encerrada e preocupada em si mesma a uma Igreja que passeia a fé, que vai às periferias sociais e existenciais. Uma pastoral de conversão. Uma Igreja em estado de missão. Uma Igreja com dimensão comunitária e pessoal de compromisso com os pobres. E, chamou a atenção para que uma ação caritativa e social dificilmente será um sinal eficaz de comunhão e identidade eclesial se não aparecer como uma ação comunitária e coordenada.
A Cáritas é a expressão e o instrumento da caridade da grande comunidade cristã presidida pelo Bispo e, portanto, de todas as comunidades eclesiais, paroquiais e outras que a ela pertencem, como afirmou o Papa São João Paulo II.
Inma falou depois do que é a Cáritas: – É ícone do amor de Deus ao homem; – É uma dimensão fundamental da Igreja; – É uma ação eclesial; – É a diaconia da comunidade para a realização da ação caritativa e social da igreja. Referiu, também o que não é a Cáritas: – Uma simples organização eclesial; – Um grupo de cristãos comprometidos e sensibilizados; – Uma ONG que está dentro da igreja; – Uma entidade da igreja que atende os pobres. Por isso a tarefa da Cáritas é “ser fermento animador da comunidade. A missão do sacerdote é fundamental, enquanto primeiro responsável pela Caridade na Paróquia. Segundo São João Paulo II, o sacerdote “é o homem da caridade”, que, também, “está chamado a educar os demais na imitação de Cristo e no novo mandamento do amor fraterno (Jo. 15,12) …. em particular do amor preferencial pelos pobres, nos quais, através da fé, descobre a presença de Jesus (Mt 25,40) e o amor misericordioso pelos pecadores” (Pastores Dabo Vobis 49).
Por fim falou do voluntariado na Cáritas, o voluntariado como discipulado, um voluntariado comprometido que acredita na mudança social rumo a uma sociedade mais justa. Por isso, afirmou que é preciso caminhar, movermo-nos para mudar as coisas, com base em cinco pressupostos: ver, julgar; agir; rever e celebrar.
O senhor Bispo, antes da oração final, encerrou os trabalhos sublinhado o trabalho desenvolvido pela Cáritas Diocesana e pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Social e Mobilidade Humana e da necessidade deste serviço da Pasrtoral ser organizado em todas as comunidades cristãs. Lembrou que esta Assembleia antecede a Semana Cáritas que é um momento muito rico para recentrarmos a missão da Igreja no sentido de contribuir para a irradicação da pobreza, e a oração pelos mais pobres que vivem nas diversas periferias, geográficas, existenciais e outras. A palavra final foi de agradecimento a todos os que participaram, aos palestrantes e aos que colaboraram na organização deste dia diocesano da Pastoral Social, em concreto ao senhor padre António Escarameia e à Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão.
Portalegre, 09 de março de 2019
Elicídio Bilé
Secretariado Diocesano da Pastoral Social
e Mobilidade Humana