De novo os incêndios Florestais
Os fogos florestais em Portugal constituem o mais relevante problema ambiental em Portugal. As causas são normalmente imputadas às características climáticas e meteorológicas do nosso País, sobretudo com o agravamento descontrolado da poluição atmosférica e das alterações que condicionam a vida do planeta. Sendo verdade, constitui um erro de análise ficarmos limitados a estas causas.
Portugal distingue-se dos Países do sul da Europa pelo elevado número de ignições e pelo volume de área ardida, em particular na zona Centro do País.
Existem outras causas, sobejamente conhecidas, que nem sempre são tidas em conta na generalidade das análises que são feitas:
- O uso e ocupação do solo, com o abandono da agricultura, silvicultura e pecuária;
- O êxodo da população rural para as áreas urbanas;
- A perda de população nos distritos do interior. Na área da Diocese de Portalegre – Castelo Branco, nos últimos 50 anos constatamos uma evolução demográfica negativa (Portalegre -39%, C. Branco -35%, Santarém -2%)[1];
- A transformação dos antigos campos de cultivo em grandes plantações arbóreas, sem critério seletivo de espécies, focada em espécie altamente combustível, como o eucalipto ou o pinheiro bravo, favorecendo a proliferação de incêndios.
- Uma legislação a necessitar de revisão, considerando que não é revista há mais de uma década e que o agravamento das situações de emergência, reclamam:
– Lei de Bases da Proteção Civil – 2006
– Normas de Funcionamento da Comissão Nacional de Proteção Civil – 2008
– Regulamento de Funcionamento dos Centros de Coordenação – 2008
– Normas técnicas para a Elaboração de Planos de Emergência de Proteção Civil – 2008
– Lei de Segurança Interna – 2008
Os recentes fogos florestais ocorridos e em curso na área geográfica da Diocese de Portalegre, concretamente na Região do Pinhal Interior, preocupam-nos e alertam-nos para ineficácia da prevenção, para a falta de investimento produtivo na região, para a criação de emprego que fixe os jovens ao território.
Não podemos, continuadamente, ficar a olhar para as cinzas geradas pela inércia, para os gritos de aflição das populações dramaticamente afetadas por elas, para a perda de património e da biodiversidade, para o luto das famílias atingidas, como aconteceu, agora, com a família do bombeiro Diogo Dias que entregou a sua vida para salvar a vida e os bens de outros seus conterrâneos.
No final do mês de julho, com o que está a acontecer em Oleiros, Proença a Nova e Sertã, é justo questionarmo-nos sobre o que acontecerá até ao final do verão, à semelhança de anos anteriores.
Celebramos o quinto aniversário da encíclica ecológica e social “Laudato Si”, através do qual o Papa Francisco pretende «chamar a atenção para o grito da terra e dos pobres». Esperamos que nos sirva de inspiração para o momento atual que vivemos, para alterar o paradigma em que tem assentado a nossa ação ou inação para com o planeta – esta terra que nos foi dada para habitar e conviver.
Manifesto a nossa solidariedade e a nossa disponibilidade aos Presidentes das Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia afetadas, aos Párocos, às Corporações de Bombeiros, à Proteção Civil e Forças de Segurança e às famílias que vivem e sofrem com esta tragédia.
Em comunhão com o senhor Bispo, a todos saúdo em nome da Cáritas Diocesana e esperamos a solidariedade de todos em mais este momento de angústia.
Portalegre, 27 de julho de 2020
Elicídio Bilé
Presidente da Cáritas Diocesana de Portalegre – Castelo Branco
[1] Cadernos de Geografia – Luciano Lourenço, António Bento-Gonçalves e António Vieira