Conclusões da 9.ª Assembleia Diocesana da Pastoral Social e Mobilidade Humana
No dia 24 de fevereiro, II Domingo da Quaresma, a Dioce
se de Portalegre – Castelo Branco reuniu no Auditório da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco, a 9.ª Assembleia Diocesana da Pastoral Social, organizada pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Social e Mobilidade Humana, com a participação de pessoas vindas das diversas zonas pastorais da Diocese, representantes de diversos movimentos pastorais, párocos e entidades.
A Assembleia, presidida pelo senhor Bispo, D. Antonino Dias, que teve como tema “A Família e o Cuidado da Casa Comum – um exercício de ecologia humana”, iniciou-se com um tempo de oração, após o qual, o Diretor do Secretariado Diocesano da Pastoral Social e Mobilidade Humana, Elicídio Bilé, saudou os presentes, o senhor Bispo, D. Antonino Dias, o senhor Presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, Dr. Luís Correia, o Arcipreste de Castelo Branco, Pe. José António Gonçalves. Agradeceu à Escola Superior Agrária, a cedência das instalações, à Câmara Municipal de Castelo Branco o apoio a esta iniciativa e ao P. José António pela colaboração na organização da Assembleia, e aos convidados palestrantes, Dr. Paulo Francisco, sociólogo, Dr. Duarte Caldeira, do Centro de Estudos de Proteção Civil e Dr. João Pereira, secretário geral da Cáritas portuguesa. Fez, depois, o enquadramento da Assembleia, recordando que ocorre no início da Semana Cáritas que tem por lema “UMA SÓ FAMÍLIA HUMANA. Cuidar da Casa da Casa Comum”, cujo ponto alto será o 3.º Domingo da Quaresma, com diversas iniciativas e como oportunidade para dar visibilidade a este serviço da Igreja a favor dos mais carenciados possibilitando a partilha fraterna de bens, não como uma forma limitada de caridade, mas com verdadeiro sentido de justiça, como sinal e caminho de comunhão de vida, segundo a justiça de Deus.
Referiu que o tema proposto, “A FAMÍLIA E O CUIDADO DA CASA COMUM. Um exercício de ecologia integral, é desenvolvido a partir de dois documentos do Papa Francisco: a Exortação Apostólica pós sinodal “Amoris Laetitia” – ‘A alegria do Amor’ e a Carta Encíclica “Laudato Si” – ‘Louvado sejas’, de 2015, para reflectirmos e percebermos que muitos dos problemas ecológicos com que nos debatemos e dos nossos problemas sociais e pessoais, são fruto da ação do ser humano. São produto das nossas mãos e do nosso comportamento, e têm a sua raiz nas mesmas fraquezas humanas. Pretende-se lançar um olhar para o que de errado estamos a fazer, que contraria os ensinamentos morais católicos e o próprio Evangelho, justificando que, num mundo que está tão necessitado de ouvir as mensagens do Evangelho, sobre temperança, prudência, misericórdia, justiça, caridade…, que nos levem à alegria da Páscoa, do amor autêntico e da promoção do “bem comum”, acreditamos que o contributo deste dia de reflexão, poderá deixar uma marca importante para a nossa caminhada em Igreja, que se traduza num compromisso de mudança de paradigma no que concerne aos nossos comportamentos, como família humana, em estreita ligação com a natureza que desprezamos e maltratamos. Olharemos, também, para as causas e consequências dos fogos florestais, tão vivos na memória da nossa Diocese que viu arder 13 dos 23 concelhos que a constituem, alguns dos quais com mais de 80% do seu território ardido, com perda física de histórias e memórias das famílias, dos seus bens patrimoniais, da fauna, da flora e de diversas actividades económicas, destruídas ou profundamente afetadas.
Seguiu-se a Sessão de Abertura presidida pelo senhor Bispo que teve palavras de estímulo e de incentivo à participação de todos e na identificação com os objectivos da jornada. Usaram da palavra o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco sublinhando a boa cooperação entre a Autarquia e a Cáritas, que se tem traduzido em apoios de diversa natureza e o Arcipreste P. José António que se congratulou com a escolha do tema da assembleia e deu as “boas vindas” a todos os participantes.
“Família e cuidado da casa comum”, foi o tema abordado pelo sociólogo Dr. Paulo Francisco que dividiu a sua intervenção em duas partes que se complementaram. Na primeira parte apresentou a família nas suas diversas formulações e abordagens: Abordagem sociológica (diversidade de formas, estruturas, padrões, organizações e funções); Abordagens funcionalistas (instituições sociais, socialização primária, personalidade – reprodução e procriação; e Abordagens feministas (fonte de vital de consolo, conforto, amor, carinho…; violência, exploração, solidão, desigualdade…). Apresentou alguns dos factores de desenvolvimento da diversidade de famílias e as novas perspectivas de abordagem (as uniões voluntárias, o individualismo, a indústria dos aconselhamentos matrimoniais). Falou das alternativas ao casamento, afirmando que a família não está a desaparecer – está a diversificar-se. Ilustrou com alguns quadros, baseados em fontes do INE e PORDATA, sobre a evolução da família: entre 2010 e 2016 a percentagem de casamentos não católicos, aumentou de 57,9 para 64,7; casamentos entre pessoas de sexo oposto diminuiu, no mesmo período, de 39.727 para 31.977 e pessoas do mesmo sexo tiveram um aumento de 266 para 422; os divórcios entre pessoas de sexo oposto entre 1980 e 2016 derivados de casamentos civis, aumentou de 2.209 para 10.063 e de casamentos católicos o aumento foi de 3.634 para 12.241; a percentagem de nados vivos fora do casamento também aumentou entre 2010 e 2016 de 22,2 para 52,8.
A segunda parte da sua intervenção, foi centrada nos dois documentos do Papa Francisco. Fazendo a releitura da “Alegria do Amor”, sublinhou alguns dos desafios preconizados: As famílias não são um problema, são sobretudo uma oportunidade; o convite à MISERICÓRDIA e Discernimento Pastoral perante situações que não correspondem ao “que o Senhor nos propõe”; Nem a sociedade em que vivemos nem aquela para onde vamos nos permitem a sobrevivência indiscriminadora de formas e modelos do passado; É “Legítimo e justo rejeitar velhas formas de família tradicional”; Reafirma a importância e a dignidade do Matrimónio – Sacramento fundador de uma família que ama e ensina a amar; De nada serve impor normas pela autoridade – propor, sim, razões e motivos para se optar pelo matrimónio; A necessária Autocrítica (AL36) – A nossa maneira de apresentar… As convicções e a forma como tratamos as pessoas, PROVOCARAM aquilo que hoje nos lamentamos… Acompanhamento, linguagem, horários desadequados, ideal teológico demasiado abstracto, excessiva idealização…; “Muitas vezes agimos na defensiva e gastámos energias pastorais multiplicando os ataques ao mundo decadente, com pouca capacidade de propor e indicar caminhos de Felicidade” (AL38). É necessário atentar para o contexto de reflexão:
Individualismo, Cultura do Provisório, Sociedade de Consumo, Insegurança (económica, social – afirmação social), Isolamento, Habitação, Migrações, Idosos, Falências, Miséria …; AL49: “… a Igreja deve pôr um cuidado especial em compreender, consolar e integrar, evitando impor-lhes um conjunto de normas como se fossem uma rocha, tendo como resultado fazê-las sentir-se julgadas e abandonadas precisamente por Aquela Mãe que é chamada a levar-lhes a Misericórdia de Deus. Assim, em vez de oferecer a força sanadora da graça e da luz do Evangelho, alguns querem “doutrinar” o Evangelho, transformá-lo em «pedras mortas para as atirar contra os outros» ”; O Dr. Paulo Francisco fez ainda uma Observação Pessoal: Alguns Padres, Bispos e Cardeais estão a descobrir e introduzir (depois dos pecados veniais e dos pecados mortais, os PECADOS IMORTAIS…); Desafios: EDUCAÇÃO, VÍCIOS (Toxicodependência, Alcoolismo, Jogos de azar), VIOLÊNCIA; RECONHECER grande variedade de situações familiares; REDESCOBRIR o AMOR; Erradicar a VIOLÊNCIA, maus tratos, escravidão, machismo; As realidades que nos preocupam são DESAFIOS: “Libertar em nós as energias da esperança, traduzindo-as em sonhos proféticos, acções transformadoras e imaginação da caridade”.
Relativamente à “Laudato Si” centrou-se no exercício de “Ecologia Integral”, proposto para a temática da Assembleia Diocesana da Pastoral Social, apresentando alguns dos aspectos mais significativos da Encíclica: O Papa Francisco recorda na sua Encíclica as preocupações de todos os Papas desde João XXIII, com o planeta; Apela a que TODA A FAMÍLIA HUMANA se una em busca de um desenvolvimento sustentável e integral; O Papa procura, a partir das preocupações ambientais (recordando todo um conjunto de conselhos práticos), hoje por demais globais, alertar-nos para o facto de que tudo está ligado – A natureza, o ambiente, a ecologia os seres vivos (plantas e animais), o homem: do Louvor da Natureza à fraternidade universal; Isto é uma ecologia integral; O Papa analisa a causa dos desequilíbrios existentes e reconhece os malefícios do sistema económico globalizado. A forma de repor este equilíbrio tendente a um desenvolvimento integrado é inseparável da preocupação da natureza, da procupação de justiça para com os pobres, do empenhamento na sociedade e da paz interior; Uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma verdadeira abordagem social; Não há espaço para a globalização da indiferença.
À comunicação seguiu-se frutuoso debate com a Assembleia.
Após o almoço foi constituído o painel formado pelo Dr. Duarte Caldeira, presidente do Conselho Diretivo do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil e Coordenador do Curso de Extensão Universitária em Emergências e Proteção Civil, na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa e o Dr. João Pereira, Diretor Geral da Cáritas Portuguesa que abordaram o tema “A perda da biodiversidade. Consequência dos fogos florestais”. O Dr. Duarte Caldeira iniciou a sua exposição com a apresentação de um vídeo sobre os fogos florestais do verão passado, com imagens impressionantes de devastação, morte e dor. De seguida identificou o problema e apresentou propostas de solução. Sobre o problema fez um conjunto de afirmações com base no estudo da situação e na realidade que se vive: Os incêndios florestais são a maior ameaça que as florestas do sul da Europa enfrentam e que se irá agravar com as mudanças climáticas; Os incêndios florestais afetam os ecossistemas e as comunidades humanas, com consequências socioambientais e económicas; A falta de gestão do território rural, o abandono agrícola, a falta de prevenção o inadequado planeamento territorial e a ausência de instrumentos em programas de gestão do combustível; o mosaico agro-silvo-pastoril colapsou. Quanto à solução, o Dr. Duarte Caldeira referiu: Definir um novo modelo de desenvolvimento que trave a morte anunciada do território rural: Definir um quadro de referência estratégica para o sector florestal; Apostar na cultura ambiental e na valorização da biodiversidade; Envolver as populações na sua autoprotecção; e uma boa governança.
O Dr. João Pereira começou por apresentar a história da Cáritas no Mundo, desde o período da Revolução Industrial até aos nossos dias, com especial incidência nas acções que em Portugal foram marcantes para o desenvolvimento da Cáritas, a seguir à II Guerra Mundial e à reconstrução da Europa. Falou da dinâmica da Cáritas em Portugal, relativamente à sua ação em situações de emergência. Apresentou dados referentes à campanha “Cáritas com Portugal abraça vítimas dos incêndios” e sublinhou o esforço da Cáritas na elaboração de um “Plano Institucional de Resposta a Emergências e Catástrofes – PIREC” como forma de maior participação e maior organização em todas as situações de emergência, em ligação com os diversos patamares da Proteção Civil (Nacional, Distrital e Municipal). A Cáritas Diocesana de Portalegre – Castelo Branco integra o grupo de trabalho para a elaboração do PIREC que deverá ser aprovado no Conselho Geral da Cáritas a realizar em Setúbal no mês de Abril.
Estas intervenções da tarde suscitaram um alargado de debate, pelo interesse do tema e pela qualidade e oportunidade das comunicações.
A finalizar, o Diretor do Secretariado sublinhou a preocupação na organização da Pastoral Social na Diocese, sublinhando que as pessoas estão nas diversas comunidades paroquiais, onde vivem e convivem com os problemas que as afetam e para os quais a comunidade deve encontrar as respostas adequadas, tendo como suporte a organização diocesana, como no caso em debate, relativamente à família e ao meio ambiente, de acordo com os documentos do magistério e à organização da Cáritas. Não basta que a diocese esteja organizada se as comunidades paroquiais, não criarem a Cáritas Paroquial ou Interparoquial para aplicarem os conteúdos dos programas que já existem e outros que estão a ser construídos, inclusivamente a formação inicial e contínua dos grupos e comunidades cristãs em geral.
O senhor Bispo, antes da oração final, encerrou os trabalhos sublinhado a preocupação e a necessidade da Diocese organizar a Pastoral social, em todas comunidades cristãs, criando e desenvolvendo a Cáritas, como serviço na comunidade, em nome da Igreja. A Cáritas Diocesana e o Secretariado Diocesano da Pastoral Social e Mobilidade Humana, têm a missão de animar os Grupos Paroquiais de Ação Social, ajudar na sua organização e dotá-los de ferramentas de intervenção. A palavra final foi de agradecimento a todos os que participaram, aos palestrantes e aos que colaboraram na organização deste dia diocesano da Pastoral Social. Deixou, contudo, uma nota de desagrado pelo facto de serem organizadas outras actividades coincidentes com a data da organização dos dias diocesanos, que constam do calendário diocesano e são estruturantes para o desenvolvimento da ação da Igreja, nestas áreas fundamentais da pastoral, contrariando tudo o que sempre tem dito e pedido.
Portalegre, 26 de fevereiro de 2018
Elicídio Bilé
Secretariado Diocesano da Pastoral Social
e Mobilidade Humana
e-mail – caritas.ptg@gmail.com