I Encontro Pastoral Social do Arciprestado da Sertã
Sob o tema “Misericórdia: Igreja em sociedade”, realizou-se no dia 7 de maio, na Casa da Cultura da Sertã, o I Encontro da Pastoral Social do Arciprestado da Sertã. Presentes cerca de uma centena de participantes tiveram oportunidade de escutar, reflectir e debater alguns temas inseridos no contexto do Ano Jubilar da Misericórdia. {phocagallery view=category|categoryid=1|imageid=115}
O Pároco da Sertã, P. Daniel, saudou e deu as boas vindas aos presentes. O Provedor da Santa Casa da Misericórdia, Tavares Fernandes, situou a ação da Instituição, na prática das Obras de Misericórdia e o senhor Presidente da Câmara Municipal, José Farinha Nunes, sublinhou a oportunidade do Encontro e a temática a abordar, desejando que esta contribua para transformar as comunidades e tornar cada cidadão, mais consciente, ativo e dedicado à nobre causa de auxílio aos mais carenciados. A sessão de abertura terminou com as palavras do Arcipreste P. Luís Manuel, salientando que, ao longo dos vários anos de Arcipreste, tem procurado ajudar a despertar para uma vivência da fé comprometida. Referiu que, nas paróquias que lhe estão confiadas, quanto mais se caminha juntos, mais o entusiasmo cresce pois ao caminhar juntos é mais fácil dar as mãos e entusiasmarmo-nos mutuamente. Desejou que este dia, contribua para a renovação deste compromisso e seja não uma meta mas uma partida para incentivarmos mais a nossa vivência cristã na medida em que corremos para a meta. A Misericórdia que tem de ser feita de atos concretos, sê-lo-á na medida em que formos ao encontro dos outros. Terminou felicitando a equipa da Pastoral Social do Arciprestado que tem como representante o Pe. Virgílio.
Seguiram-se dois painéis: o primeiro, da responsabilidade de Alfredo Serra, representante do Arciprestado no Conselho Pastoral Diocesano, que abordou o tema, “Misericórdia na Igreja”. Começou por referir que Jesus Cristo é expressão concreta da Misericórdia de Deus que nos incentiva a ir para às periferias e por em prática a Misericórdia, de forma silenciosa mas atuante e concreta e não sujeita às vontades do agora ou do amanhã. Que é necessário conhecer os fundamentos da Doutrina social da Igreja para que a Misericórdia seja efetiva e a pastoral social não se faça ao acaso. Que a igreja está sempre na “linha da frente” e, hoje, no nosso tempo, o Papa Francisco convida a sair, a “ir às periferias”. Neste sentido, todos temos a responsabilidade de ter uma participação ativa e, para tal, não basta sermos cristãos dentro das “quatro paredes” do Templo. Terminou dizendo que o Sínodo Diocesano não terminou, antes nos projecta, e que a Assembleia Sinodal propõe: formar os fiéis, na Doutrina Social da Igreja; renovar e organizar a caridade; que se inove e fomente a prática do voluntariado; que é necessário comprometer e comprometer-se.
O segundo painel da manhã, da responsabilidade de Eugénio da Fonseca, Presidente da Cáritas Portuguesa, teve por tema, “Igreja em saída – desafios da sociedade à Igreja e que respostas da Cáritas/Igreja”. Iniciou a comunicação por referir o nº 14 da Bula de Proclamação do Jubileu: “A vida é uma peregrinação e o ser humano é Viator um peregrino que percorre uma estrada até à meta” e questionou: Hoje, onde estão na sociedade essas periferias a que se refere o Papa Francisco? Apontou as seguintes: a Pobreza, que atinge cerca de 20% da população mundial; o Desemprego de longa duração, que atinge 90% das pessoas que caíram no desemprego e que poderão não ter trabalho por conta de outrem; as desigualdades sociais, onde, entre nós, a diferença entre ricos e pobres é mais notória; a crise do sobreendividamento, com a criação de encargos, sem condições para os fazer; os Refugiados, que geram na sociedade muitos receios e medo do desconhecido; a solidão, periferia que pode estar na porta ao nosso lado. {phocagallery view=category|categoryid=1|imageid=116}
Após o almoço, seguiram-se dois painéis. O primeiro, “Sociedade e Voluntariado”, da responsabilidade de Alípio Dias, que centrou a sua comunicação nos aspectos relacionais e na comunicação entre as pessoas. O segundo, “Animação Comunitária – desafios da Cáritas Diocesana”, com a presença de Luís Mamão, técnico colaborador, Rufina Garcia, coordenadora do sector de Mobilidade Humana e Elicídio Bilé, Presidente da Cáritas Diocesana de Portalegre – Castelo Branco. Elicídio Bilé felicitou o Arciprestado pela iniciativa, e manifestou o desejo que a iniciativa se consiga replicar noutros arciprestados. Agradeceu ao Arcipreste e aos grupos deste arciprestado que se juntaram para refletir e partilhar, reconhecendo a dinâmica que aqui se vive entre os diversos serviços, obras e movimentos da pastoral social e referiu que a comunhão eclesial é fundamental e é uma das preocupações da Cáritas Diocesana e do Sr. Bispo, D. Antonino Dias.
Apontou para a necessidade da formação, como desiderato para a prossecução da ação social nas paróquias, e que resulta das conclusões do Sínodo Diocesano. Sobre a organização da pastoral social e a formação salientou que, a Cáritas, consciente desta necessidade, tem no terreno há três anos, o “Projeto +Próximo”. Os objetivos do projecto visam: 1. Sensibilizar e envolver as comunidades cristãs na organização da pastoral social, procurando uma maior e melhor cooperação entre os diferentes organismos e movimentos da pastoral social; 2. Elaborar um conjunto de materiais de formação/animação, reforçando as competências dos agentes de ação social paroquial; 3. Priorizar a criação, funcionamento e qualificação de um serviço de ação social em cada paróquia. Abordou de seguida a problemática dos Migrantes e Refugiados, salientando o relevante papel da Igreja, no seu acolhimento e acompanhamento. Referindo que este serviço é um dever para a Igreja de hoje, como foi ao longo da história, cuja resposta assenta em três pilares: Aceitação (Rm 15,7-9); Hospitalidade (Rm 12,13); Preocupação (Provérbios 31,8-9).
Testemunhando a ação da Cáritas Diocesana, Luís Mamão falou da ação concreta que a Cáritas Diocesana desenvolve no apoio aos Migrantes e Refugiados, apresentado as atividades realizadas no âmbito do projeto “Portalegre Acolhe”, atividades essas que procuraram trabalhar duas vertentes, a informação\formação aos migrantes, com as respostas a nível do CLAII – Centro Local de Apoio à Integração de Imigrantes, do Gabinete de Apoio ao Emprego, do Gabinete de Apoio Social e no Ensino do Português e na vertente do desenvolvimento de atividades de promoção da interculturalidade, em que se inseriram a Mostra cinema – A imigração e o sonho, a exposição de fotografia “Portalegre pelo olhar do outro”, Comemoração do Dia Mundial do Refugiado, Família do lado e as visitas culturais.
Rufina Garcia que se fez acompanhar de um grupo de refugiados residentes em Portalegre, que começou por recordar que os refugiados e os migrantes são uma das grandes preocupações do Papa Francisco e, sobre essas pessoas e com um enorme carinho, Sua Santidade, deixa-nos a seguinte reflexão:
“Os Migrantes e os Refugiados não são peões no tabuleiro de xadrez da humanidade”, trata-se de crianças, mulheres e homens que deixam ou são forçados a abandonar as suas casas por vários motivos, que compartilham o mesmo desejo legítimo de conhecer, de ter, mas acima de tudo, de ser mais.”
Depois, partilhou com os presentes, um pouco da experiência vivida com os refugiados, explicando, inclusive, as diferenças entre refugiado e migrante, pois, entender isso, fará toda a diferença, na forma de Acolher e de Integrar.
Falou que este fenómeno tem gerado muito medo e confusão junto das pessoas, e que o desconhecimento tão acentuado sobre esta matéria, fez com que o Secretariado da Mobilidade Humana elaborasse um manual de Boas Práticas sobre o Acolhimento e Integração dos Refugiados, como ferramenta de trabalho para ajudar e facilitar a forma de proceder nas paróquias/comunidades em toda a Diocese.
Explicou que a Mobilidade Humana, através da Cáritas Diocesana desenvolve de forma activa, um processo de Acolhimento/Integração com os refugiados que chegaram a Portalegre e que foram entregues à Segurança Social, e, isto, muito simplesmente, porque aquela instituição solicitou a colaboração da Cáritas para o apoio da Língua portuguesa.
Acrescentou, que a acção desenvolvida, foi, desde, o primeiro dia, muito para além do ensino diário da língua portuguesa, pois contempla, no âmbito do projecto “Língua, Cultura e Cidadania”, actividades culturais e de cidadania muito variadas, nomeadamente, cultura geral, representações, canções, visitas, passeios, debates sobre temas da actualidade… que visam o acolhimento e a integração dessas pessoas e alguns apoios pontuais.
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Referindo-se ao Acolhimento, lembrou: ”Acolher não é fácil, e, se já é difícil, quando se trata de pessoas que comungam dos mesmos ideais e que até se conhecem, agora, imaginem, a dificuldade que as comunidades devem sentir ao acolher pessoas de vários Continentes, com línguas, culturas e religiões tão diversificadas, oriundas de países, como o Paquistão, Sudão, Marrocos, Bielorrússia, Afeganistão, Iraque, Rep. Dem. do Congo, Mali, Nigéria, Costa do Marfim, Etiópia, Serra Leoa, Uganda, China, Camarões, Guiné-Conacri e Congo ).”
Sobre esta problemática dos refugiados salientou, “tratar-se de uma matéria com uma especificidade muito própria e que requer, forçosamente, ser tratada como tal, pois estamos perante situações complexas, delicadas e bem diferentes daquelas a que chamamos normais e que tratamos diariamente. Por isso, não podemos, em circunstância alguma, ditar ou impôr modelos formatados, ideias ao nosso jeito ou como nos parece e muito menos, sem qualquer formação nesta área.”
“Assim, e porque se trata de Pessoas, nunca será demais repetir, que o trabalho a desenvolver carece de um cuidado e atenção muito especias e exige, isso sim, um conhecimento alargado e a vários níveis do mundo, um pensar global, para agir localmente, e, é fundamental respeitar mutuamente as diferenças e ver nessas diferenças, a beleza das cores do arco-íris que a todos ajudará a crescer, principalmente, quando descobrimos Jesus Cristo, na lágima, no olhar, e no sorriso desenhados no rosto de cada uma dessas pessoas.”
A concluir, sublinhou que “é preciso aprender a escutar, a cuidar com coração e a agir com rapidez e sabedoria e que o trabalho até agora desenvolvido, pautado pelo rigor e pela preocupação constante em devolver aos refugiados a dignidade e o respeito que merecem, não é mais do que, uma casa em permanente construção, feita com base no amor que humaniza e num caminhar de todos, com todos e para todos, pois, a Cáritas Diocesana, como forma de Acolher e Integrar, é Porta da Misericórdia, numa Igreja em saída, sem medo, ao encontro destes Irmãos que são pessoas como tu, como eu, como nós, devolvendo-lhes a Esperança de um futuro melhor.”