Conclusões da 7ª Assembleia Diocesana da Pastoral Social e Mobilidade Humana em Vila de Rei
O Auditório Municipal de Vila de Rei recebeu, no passado dia 20 de fevereiro, mais de duas centenas de pessoas, entre sacerdotes, membros das Misericórdias e outras instituições sociais, e representantes dos vários grupos e movimentos pastorais da diocese de Portalegre e Castelo Branco, para participar na 7ª Assembleia Diocesana da Pastoral Social e Mobilidade Humana, organizada pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Social e Mobilidade Humana.
Esta Assembleia teve como tema principal “A Misericórdia – Coração da Identidade Cristã” e iniciou-se com a oração, presidida pelo Pe. Américo Agostinho, assistente deste Secretariado.
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Após o momento de oração, o Diretor do Secretariado Diocesano da Pastoral Social e Mobilidade Humana, Elicídio Bilé, saudou os presentes, começando por referir que o tema é escolhido em função da temática que a Igreja propõe, este ano a vivência do ano Jubilar da Misericórdia, proclamado pelo Papa Francisco, no dia 11 de abril de 2015, através da Bula de Proclamação “Misericordiae Vultus”- Rosto de Misericórdia. De seguida, tomou a palavra, o Presidente da Assembleia Municipal referindo que, ao longo dos anos, o município tem apostado nesta componente de apoio social às populações e tem sido distinguido como município familiarmente responsável. O Pe. Luís, em representação do Sr. Bispo, desejou que aprendamos a viver em misericórdia de forma concreta, pois somos os primeiros responsáveis por colocar a misericórdia em ação nas nossas paróquias e que não nos cansemos de viver a misericórdia onde estamos.
Depois da sessão de abertura, assistimos à brilhante comunicação do teólogo Doutor Juan Ambrosio, professor da Universidade Católica, que se debruçou sobre o tema “A Misericórdia: Inspiração para a reflexão e motivação para a ação”. Iniciou a sua dissertação por contextualizar a proclamação deste Ano Jubilar e o seu enquadramento. Afirmou que a Bula “O Rosto da Misericórdia” tem como destinatários “Quantos a lerem” e, a partir daqui, a preleção do Dr. Juan Ambrósio foi sobretudo de interpelação. Incentivou ao compromisso, que deve ser assumido publicamente, tendo sempre como ponto de referência as palavras do Papa que constituem um desafio, um convite à Igreja para ir às periferias e construir a casa comum. O Ano da Misericórdia tem de marcar a diferença entre um antes e o depois e temos um ano para nos preparar para que o depois seja diferente. Esta diferença tem de ser dada pela marca da misericórdia.
Misericórdia não é apenas um sentimento, uma manifestação de sensibilidade. “Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro”,“Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz.” (Mv 2) Assim, precisamos de fixar o olhar na misericórdia para nos tornarmos sinal eficaz e as comunidades cristãs são chamadas a exercer o protagonismo do qual depende o futuro da humanidade. É necessário que sejamos Igreja de saída e não nos fechemos nas nossas paróquias. O papa quer uma Igreja mais forte, mais alegre por causa da edificação da casa comum e a credibilidade da Igreja passa pelo ser misericordioso e compassivo, como refere o Papa, “A arquitrave que suporta a vida da Igreja é a misericórdia”. O Dr. Juan Ambrósio referiu também que o problema é que expressão misericórdia está contaminada com o que diz ser “a voz da rua”: sentimento de compaixão, misericórdia entendida como pena do outro. Este conferencista salientou que a misericórdia é pensada em resposta a uma necessidade do outro e questionou: o que significa acreditar e anunciar que Deus é misericordioso? “Acreditar que Deus é Misericordioso significa perceber que não é um Deus impassível mas que se preocupa e se deixa comover com o ser humano”. Esta misericórdia tem consequências para a vida do cristão e para a vida pastoral da Igreja, exigindo muito mais do que uma organização caritativa, ou sociopolítica da Igreja. A misericórdia não se reduz a uma dimensão moral, nem espiritual, mas tem a ver com o próprio acreditar, é critério para sermos cristãos, aliás, “torna-se o critério para individuar quem são os seus verdadeiros filhos” (Mv) e estes são convidados a ser “Os Rostos de Misericórdia”, não se fechando em si mesmos, mas de “corações abertos, mãos abertas, pernas velozes“ devem dar sentido às palavras do Papa, “Quanto desejo que os anos futuros sejam permeados de misericórdia para ir ao encontro de todas as pessoas levando-lhes a bondade e a ternura de Deus! (Mv 5).
A parte da tarde foi preenchida com uma mesa redonda, com a presença da Vice Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Vila de Rei; Anacleto da Silva Batista, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Sardoal; David José Esteves, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Amieira do Tejo, e o Pe. Américo Ribeiro Agostinho, assistente diocesano da Cáritas, que abordaram o tema “A Misericórdia – Novo impulso da Humanidade”, num debate moderado pelo Dr. Paulo Rocha, diretor da Agência Ecclesia.
Cada instituição foi convidada a partilhar os projetos que desenvolve, as motivações que as levam todos os dias a desenvolvê-los e até que ponto é que a palavra Misericórdia está no quotidiano das Misericórdias.
Estas instituições, com dimensões diferentes, mas que partilham motivações comuns (o interesse pelo bem-estar e o estar atento a todas as situações), procuram no seu dia-a-dia ser também o “Rosto de Misericórdia” no tratamento que dão aos utentes, com carinho e palavras de esperança, mostrando o caminho à luz do Evangelho. Reconhecem que nem sempre é fácil, e que, por vezes, há necessidade de formação para que os funcionários possam ser técnicos mas também sinal visível da presença de Deus pondo em prática as Obras de Misericórdia. Torna-se necessário prestar assistência e não olhar tanto ao aspeto material, trabalhar no sentido da humanização e tornar as pessoas “mais próximas”, referiu o Pe. Américo Agostinho.
O Sr. Bispo encerrou a Assembleia, com palavras de estímulo e gratidão para com o Secretariado Diocesano, o Município de Vila de Rei, preletores convidados, provedores e todos os presentes, mostrando o seu apreço pelo trabalho que ali fora desenvolvido. “O caminho faz-se caminhando”, disse.
Destacou, ainda, o papel que as quarenta Misericórdias e Centros Sociais Paroquiais têm ao nível da ação social, na diocese. No entanto, salientou que estas instituições não podem ser espaços de “ateísmo prático”, onde “não se tem nada contra Deus, mas faz-se tudo sem Deus”. Nas Santas Casas da Misericórdia, a Misericórdia também se exerce falando dos sacramentos, da Santa Unção, pois muitos dos utentes foram pessoas que frequentaram a Igreja. Referiu ainda que qualquer Santa Casa da Misericórdia deve ter um projeto de formação de qualidade, formação na fé para os colaboradores para que estes tenham consciência de pertença. Deus não é qualquer coisa que podemos arrumar, não é só para conforto, mas é para testemunhar em que acreditamos, não podemos perder a identidade do que somos. Somos a Igreja que não tem um fim em si mesma, mas está ao serviço de uma causa. Jesus Cristo confiou em nós a sua missão. Jesus Cristo é o Rosto de Misericórdia, e nós somos todos rostos de Cristo, que confiou em nós para que fossemos em Seu nome e, para irmos, temos de saber o que vamos fazer. Daí a necessidade de formação.
Concluiu, dizendo que estas jornadas são também uma ocasião para revitalizar a nossa fé, a nossa consciência de pertença a uma diocese, fazendo-nos olhar para dentro de nós e dizer: “vede como eles se amam”.
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