Presidente da Cáritas Diocesana em entrevista ao “Ecos do Sor”
Presidente da Cáritas Diocesana em entrevista
“Vivemos uma situação social
particularmente grave”
Elicídio Bilé é o presidente da Cáritas Diocesana. Na entrevista que amavelmente concedeu ao nosso jornal, o presidente do serviço que tem como objectivo promover o testemunho da caridade na diocese, diz de onde provêm os recursos da organização, e fala da renúncia quaresmal, da campanha de solidariedade da diocese para com São Tomé e da familiaridade que tem com Ponte de Sor
Ecos do Sor: O que o liga a Ponte de Sor?
Elicídio Bilé: Estou ligado a Ponte Sor de duas formas: uma profissional e outra eclesial. Em termos profissionais, como técnico do Centro de Emprego de Portalegre, trabalhei durante vários anos neste Concelho. Tive a oportunidade de conhecer a realidade sócio-profissional e as potencialidades humanas. Em 1989, fui o primeiro director do Centro de Emprego de Ponte de Sor. Ajudei a criá-lo, promovi a sua construção física e humana. Contratei e formei o primeiro quadro de pessoal. Aí trabalhei, nesta qualidade, durante seis anos. Em termos eclesiais, enquanto aí estive, ajudei a criar e a promover a Cáritas Paroquial de Ponte de Sor que teve uma grande vitalidade. Agora, por força da missão que tenho na Cáritas Diocesana, continuo ligado a Ponte de Sor e a todas as paróquias da nossa diocese, na expectativa da criação da “Rede Cáritas”.
ES: O que é o serviço Cáritas numa diocese ou numa paróquia?
EB: A Cáritas Diocesana é o serviço oficial e organizado da Igreja Diocesana destinado à promoção e exercício da sua acção social que tem como objectivo animar e promover o testemunho da caridade na diocese. As suas orientações fundamentais são: a Doutrina Social da Igreja, as definidas pelo plano pastoral diocesano e os imperativos da solidariedade. A Cáritas Paroquial, que não é um grupo em si mesmo, é um serviço organizado da pastoral social na paróquia, a favor de todos, sem excepção, com prioridade para os mais necessitados. Ora, se a Cáritas não é uma instituição ou movimento, mas um serviço organizado, podemos dizer que a Cáritas é a resposta da Igreja diocesana e paroquial aos mais diversificados problemas sociais que existem na comunidade. Quando falo em problemas sociais refiro-me, não só à resposta a situações de emergência, mas à promoção e inclusão dos que vivem na “margem”, ao desenvolvimento integral da pessoa humana, não só no plano social, mas no plano pessoal e à transformação social, no plano económico, social e cultural. Para a organização deste serviço Cáritas nas paróquias é necessário: organizar o atendimento paroquial; o fomento da entreajuda, da partilha de bens e do trabalho voluntário; a animação social; a prestação de serviços e a intervenção social junto de centros de decisão públicos e privados, entre outras actividades.
Crise económica e social
ES: De onde provêm os recursos da organização?
EB: Os recursos da Cáritas podem ser humanos e financeiros. Quanto aos recursos humanos é necessário valorizar e fomentar o voluntariado social na paróquia, não só porque é um imperativo cristão, mas porque o voluntariado responde a uma necessidade humana em termos de quem o pratica e em termos de quem necessita e beneficia deste serviço gratuito. Quanto aos recursos financeiros, são provenientes de dádivas ou doações, dos peditórios de rua, do ofertório das missas no “Dia Cáritas” e de campanhas de solidariedade orientadas para determinada finalidade.
ES: Nesta época de crise, qual a tipologia das pessoas que “bate à porta” da Cáritas?
EB: Vivemos uma situação particularmente grave. Uma crise económica e social que atinge a população portuguesa, sobretudo os mais necessitados e a chamada “classe média” que tende a desaparecer. Aos atendimentos sociais da Cáritas e das paróquias que estão organizadas para dar respostas, chegam pessoas desesperadas que já não conseguem encobrir a sua situação de pobreza, agravada para os que já a viviam, e recém-declarada, para os que nela caíram por causa desta crise: são os desempregados vítimas de despedimentos colectivos, por redução de pessoal ou do encerramento de empresas; são as muitas vítimas da fome por falta de recursos económicos e de respostas sociais adequadas; são os imigrantes que sofrem duplamente com esta crise, não só por serem estrangeiros, mas porque o mercado de trabalho entrou em colapso; são as vítimas de fome real, por falta ou escassez de meios de sustentação; são as vítimas de violência doméstica e de famílias desestruturadas; são os indigentes e sem abrigo; são as vítimas das diversas dependências, entre as quais a droga e o álcool, e outros. O destino das Renúncias Quaresmais
ES: Dia 15 de Março celebra-se o Dia Cáritas e é sabido que metade das Renúncias Quaresmais têm como destino a Cáritas Diocesana. Que apelo faz às pessoas para partilharem?
EB: O senhor D. Antonino, nosso Bispo, decidiu que no presente ano a Renúncia Quaresmal tivesse como destino a Cáritas Diocesana. Uma parte será destinada à Cáritas Diocesana para que, através das Cáritas Paroquiais, ou dos diversos Grupos sócio-caritativos da diocese, que apresentem, devidamente fundamentada, quando as comunidades paroquiais não tenham recursos, propostas de auxílio para aqueles que sejam vítimas de desemprego provocado por esta crise que abala o mundo e, particularmente, o nosso país. Outra parte será destinada, através da Cáritas Diocesana, a ser enviada para S. Tomé e Príncipe, para o desenvolvimento de duas iniciativas: conceder à Paróquia de Santana um apoio para as obras de adaptação e equipamento de uma creche e, a outra para a criação de um aviário a ser construído numa Roça cedida pelo governo à Cáritas de S. Tomé. Este projecto que iremos apoiar, para além de proporcionar emprego, servirá para utilizar o produto da venda dos ovos e dos galináceos, para ajudar a superar as inúmeras carências que têm as crianças de S. Tomé e Príncipe. Por isso, esta campanha, é dirigida às crianças e jovens da catequese, aos alunos das aulas de educação moral e religiosa e a todos os que se queiram associar. Esta campanha de Renúncia Quaresmal terá a designação de “um pintainho para S. Tomé” (Um pintainho = um euro). Na celebração do Dia Cáritas, seria importante, não só para a recolha de donativos, mas para tornar visível a acção da Cáritas, que as paróquias procedessem ao peditório de rua. Aproveito a oportunidade para reforçar este pedido de contribuição e participação de todos os paroquianos e leitores do jornal Ecos do Sor. Apesar da crise económica/financeira, do que se trata não é dar aquilo que nos sobeja, mas partilhar aquilo que possuímos (muito ou pouco) com aqueles que pouco ou nada têm.